A galeria
Passado Composto Século XX comemora seu décimo aniversário com
a realização desta exposição e reafirma a paixão de sua diretora, Graça
Bueno, pela nossa brasilidade moderna artística e única, apresentando
seu acervo, contando com coleções particulares e apoios institucionais.
De 19 de setembro a 17 de novembro, a galeria apresenta tapeçarias,
estudos, cartões modelo, documentos e vídeos de Genaro de Carvalho,
Jacques Douchez e Jean Gillon. A mostra tem curadoria de Alejandra
Muñoz, arquiteta e professora de História da Arte da Escola de Belas
Artes da Bahia (EBA/UFBA).

Por Alejandra Muñoz, curadora
A galeria Passado Composto Século XX reúne três dos principais artistas
da tapeçaria moderna brasileira numa perspectiva abrangente de fruição
da arte têxtil, enquanto objeto estético, processo criativo, resultado
técnico, repertório temático e trajetória profissional de seus
realizadores. Três artistas, três tempos, três espaços: o baiano Genaro
de Carvalho (1926-1971), o francês Jacques Douchez (1921-2012, radicado
no Brasil desde 1947) e Jean Gillon (1919-2007, nascido na Romênia e
naturalizado brasileiro). Da extensa produção dos três artistas, são
focalizadas tapeçarias planas produzidas entre os anos 1950 e 1970,
acompanhadas de cartões-modelo e estudos organizados em grandes temas
que evidenciam uma linha estética muito próxima e referências comuns.
Tal legado que, em termos históricos e estéticos, coincide com o
Movimento Tropicalista, foi fundamental para a afirmação de uma
brasilidade moderna, talvez pouco conhecida ou quase esquecida pelo
grande público de hoje.
O francês Jean Lurçat (1892-1966) foi o grande mestre de referência dos
artistas tapeceiros modernos, dentre eles, Jean Gillon, que conheceu
Genaro de Carvalho e com quem manteve longa amizade e admiração comum
pelo trabalho de Lurçat. Em 1954, o próprio Lurçat esteve no Brasil e,
passando por Salvador, conheceu o ateliê de Genaro que começara a fazer
suas primeiras tapeçarias no ano anterior. No ano seguinte, a
Enciclopédia Delta Larousse já se referia a Genaro como o fundador da
tapeçaria-mural no Brasil. Segundo Gillon, embora desde fins dos anos
1940, ele aprendera técnicas de tapeçaria, foi graças à "recusa" de
Genaro de produzir tapeçarias de seus desenhos que o "obrigou" a fazer
as suas próprias em fins dos anos 1960. Mas, muito antes, em 1957, São
Paulo já contava com importante centro de produção de tapeçarias, o
ateliê Douchez-Nicola, que tinha teares comprados da pioneira fábrica
Tapetes Regina, de Regina Graz. Jacques Douchez, discípulo de Samson
Flexor (1907-1971), foi integrante desde 1951 do Atelier-Abstração e
participou com tapeçarias das 7ª, 8ª e 9ª, 11ª e 13ª Bienal de São
Paulo, sendo um dos principais impulsores da arte têxtil no Brasil e um
dos idealizadores da I Mostra de Tapeçaria Brasileira realizada na FAAP,
em 1974.
No momento atual de retomada e revisão dos valores modernos brasileiros,
o resgate da produção de tapeçaria é não apenas pertinente como
necessário para o redimensionamento da complexidade da arte brasileira.
As obras de Genaro, Douchez e Gillon, além do deleite visual e estético,
refletem uma brasilidade sutil, afastada de clichês e folclorismos. Sem
dúvidas, um bom pretexto para parar na rotina e nos deixar seduzir
pelos instantes acumulados entre os fios.
Sobre a curadora:
Alejandra Muñoz, uruguaia, residente em Salvador desde 1992, é
arquiteta, mestre em Desenho Urbano e doutoranda em Urbanismo pela
Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAU/UFBA).
Foi professora de Historia e Teoria da Arquitetura na mesma instituição
(1998 a 2001) e, desde 2002, é professora efetiva de História da Arte da
Escola de Belas Artes (EBA/UFBA). Exerce diversas atividades
relacionadas às Artes e Arquitetura, produzindo textos de história e
crítica, e participando de júris e comitês de seleção. Foi curadora das
mostras Saccharum BA (MAM-BA, jun.2009), Trajetos: Vauluizo Bezerra
(MAM-BA, out.-nov. 2010), Genaro de Carvalho: De memória - Uma
retrospectiva (MAB, dez.2010-fev.2011) e Paraconsistentes - 25 artistas
contemporâneos da Bahia (em cartaz no ICBA), todas realizadas em
Salvador. Atualmente integra a equipe curatorial do Programa Rumos Artes
Visuais 2011-2013 do Instituto Itaú Cultural, coordenada pelo curador
Agnaldo Farias.